Minhas férias na roça.
Minha mãe tinha uma prima que se chamava
Benha que era casada com o Sr. José leriano, estes moravam em uma fazenda de
seu João Leandro da qual eu não lembro mais o nome. Tinham vários filhos e
todos moravam e trabalhavam na fazenda: Marcos, João Bosco e Raimundo.
Lá também, se juntavam a nós as primas vindas de Furnas,
Ana Lucia e Cristina , era uma farra só. A rotina na fazenda seguia seu dia a
dia normalmente, e quando eram 5 horas da manhã seu Zé levantava e chamava os
“meninos”, e conseqüentemente nós também íamos atrás.
Cada um pegava sua caneca
esmaltada e seguia até a cozinha onde exalava o cheiro forte e gostoso do café,
enchíamos as canecas pela metade e seguíamos para o retiro, que ficava lá no
alto perto da sede dos patrões.
Direto da teta da vaca a caneca
ia enchendo de leite e espumando até a boca, daí então era uma correria até a
casa debaixo onde dona Benha preparava as quitandas, ora bolo ou pão de queijo,
mas alguns preferiam colocar farinha de milho e açúcar no leite.
Com barriguinhas cheias , sempre voltávamos
para a cama, pois ainda estava escuro e as lamparinas de querosene continuavam
acessas e nos deixavam um bigodinho fino de fuligem.
Quando o galo cantava novamente
já era dia claro. Ao acordar, no banheiro tinha uma pia e uma privada, mas a
gente gostava mesmo era de escovar os dentes na biquinha que corria junto a
casa, e lá na frente ia aumentando o volume da água e tocava um mujolo e uma
roda d água.
Ai vinham às
tarefas. Eu gostava de alimentar as galinhas, patos que faziam um escarcéu onde
o milho caia, minhas primas levavam lavagem e fubá para o chiqueiro, que tinha lá meia dúzia de
porcos “piau e caruncho”, que vez ou
outra eram sacrificado para o sustento
da família.
Feitas as tarefas, já era hora de brincar, e
assim até o almoço que sempre era servido as 10 da manhã, porque seu Zé e os
meninos depois do retiro iam para a roça de milho e feijão carpir e chegavam
varados de fome.
E a gente se divertia a valer!
Subindo em pés de frutas, apanhando
coquinho catarrento e nadando no pequeno açude, também brincando perto do paiol
de milho com estilingue que não matava nada , somente assustava um anu ou uma
rolinha.
O almoço era uma festa!
Tinha dia que o suculento e
amarelo franco caipira fumegava, mergulhado em caldo com cebolinha e salsa, outro
dia a carne de porco guardado em postas na gordura, que saia da lata direto
para o fogão a lenha. O feijão roxinho, o arroz amarelão tudo dali mesmo era
misturado no prato e o suco de limão cravo servia para saciar a sede.
Ai,chegava a hora que eu mais
gostava: A sobremesa.
A fazenda era rica em tudo, e os
doces então... doce de leite, goiabada, doce de figo, doce de cidra, mamão,
tudo com um bom pedaço de queijo fresco que ela também fazia como ninguém.
À tarde os primos selavam os
cavalos para a lida do gado eu ia junto montado numa pequena égua por nome Chiquinha,
que eu não conhecia raças, mas acho que era piquira.
Raimundo dizia “cuidado que ela
morde” e não é que mordia mesmo....vez ou outra minha perna ficava roxa ...e eu
nem ai, a felicidade era muito maior do que a pequena dor.
O jantar era servido as quatro
horas da tarde e depois mais um pequeno lanche antes de dormir.
E assim os dias passavam tão
rápidos que a gente nem percebia , até a hora que seu Zé chegava com a carroça que
nos levaria até o ponto do caminhão leiteiro, era a hora da despedida.
Sentávamos nos bancos de madeira,
e o caminhão seguia pulando nos buracos da estrada. Meu olhar se perdia entre
as roças de milho, o gado no pasto, na pequena casa com a chaminé que ia
ficando para trás...
Chegava a cidade no bar do tula meu pai
esperava , e eu com um saco cheio de coisas boas da roça que dona Benha havia mandando para minha mãe, e assim ia
para casa para esperar até a próxima oportunidade , quando um menino da cidade
se tornaria novamente um capiau .
Eita, vida boa, eita saudade que
dói!
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