quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Minhas férias na roça.
Minha mãe tinha uma prima que se chamava Benha que era casada com o Sr. José leriano, estes moravam em uma fazenda de seu João Leandro da qual eu não lembro mais o nome. Tinham vários filhos e todos moravam e trabalhavam na fazenda: Marcos, João Bosco e Raimundo.
Lá também,  se juntavam a nós as primas vindas de Furnas, Ana Lucia e Cristina , era uma farra só. A rotina na fazenda seguia seu dia a dia normalmente, e quando eram 5 horas da manhã seu Zé levantava e chamava os “meninos”, e conseqüentemente nós também íamos atrás.
Cada um pegava sua caneca esmaltada e seguia até a cozinha onde exalava o cheiro forte e gostoso do café, enchíamos as canecas pela metade e seguíamos para o retiro, que ficava lá no alto perto da sede dos patrões.
Direto da teta da vaca a caneca ia enchendo de leite e espumando até a boca, daí então era uma correria até a casa debaixo onde dona Benha preparava as quitandas, ora bolo ou pão de queijo, mas alguns preferiam colocar farinha de milho e açúcar no leite.
 Com barriguinhas cheias , sempre voltávamos para a cama, pois ainda estava escuro e as lamparinas de querosene continuavam acessas e nos deixavam um bigodinho fino de fuligem.
Quando o galo cantava novamente já era dia claro. Ao acordar, no banheiro tinha uma pia e uma privada, mas a gente gostava mesmo era de escovar os dentes na biquinha que corria junto a casa, e lá na frente ia aumentando o volume da água e tocava um mujolo e uma roda d água.
Ai  vinham  às tarefas. Eu gostava de alimentar as galinhas, patos que faziam um escarcéu onde o milho caia, minhas primas levavam lavagem e fubá  para o chiqueiro, que tinha lá meia dúzia de porcos “piau e caruncho”, que  vez ou outra  eram sacrificado para o sustento da família.
 Feitas as tarefas, já era hora de brincar, e assim até o almoço que sempre era servido as 10 da manhã, porque seu Zé e os meninos depois do retiro iam para a roça de milho e feijão carpir e chegavam varados de fome.
E a gente se divertia a valer!
Subindo em pés de frutas, apanhando coquinho catarrento e nadando no pequeno açude, também brincando perto do paiol de milho com estilingue que não matava nada , somente assustava um anu ou uma rolinha.
O almoço era uma festa!
Tinha dia que o suculento e amarelo franco caipira fumegava, mergulhado em caldo com cebolinha e salsa, outro dia a carne de porco guardado em postas na gordura, que saia da lata direto para o fogão a lenha. O feijão roxinho, o arroz amarelão tudo dali mesmo era misturado no prato e o suco de limão cravo servia para saciar a sede.
Ai,chegava a hora que eu mais gostava: A sobremesa.
A fazenda era rica em tudo, e os doces então... doce de leite, goiabada, doce de figo, doce de cidra, mamão, tudo com um bom pedaço de queijo fresco que ela também fazia como ninguém.  
À tarde os primos selavam os cavalos para a lida do gado eu ia junto montado numa pequena égua por nome Chiquinha, que eu não conhecia raças, mas acho que era piquira.
Raimundo dizia “cuidado que ela morde” e não é que mordia mesmo....vez ou outra minha perna ficava roxa ...e eu nem ai, a felicidade era muito maior do que a pequena dor.
O jantar era servido as quatro horas da tarde e depois mais um pequeno lanche antes de dormir.
E assim os dias passavam tão rápidos que a gente nem percebia , até a hora que seu Zé chegava com a carroça que nos levaria até o ponto do caminhão leiteiro, era a hora da despedida.
Sentávamos nos bancos de madeira, e o caminhão seguia pulando nos buracos da estrada. Meu olhar se perdia entre as roças de milho, o gado no pasto, na pequena casa com a chaminé que ia ficando para trás...
 Chegava a cidade no bar do tula meu pai esperava , e eu com um saco cheio de coisas boas da roça que dona Benha  havia mandando para minha mãe, e assim ia para casa para esperar até a próxima oportunidade , quando um menino da cidade se tornaria novamente um capiau .

Eita, vida boa, eita saudade que dói!